A Amazônia em evidência: ciência, cultura e bioeconomia na rota da COP30

por Luiz Felipe Moura, coordenador do Museu de Ciência da Amazônia (MuCA)

A COP30, que se aproxima, representa muito mais do que um encontro global sobre mudanças climáticas: ela é uma oportunidade histórica para mostrar ao mundo como a Amazônia pode ser protagonista de soluções sustentáveis, centradas em conhecimento, inovação e protagonismo local. E é com esse espírito que o Museu de Ciência da Amazônia (MuCA), sediado em Belterra, vem se consolidando como um dos polos estratégicos da programação descentralizada da conferência.

Nestes últimos meses, demos passos importantes. Recebemos, em nossa sede, a Missão Nacional do Sebrae, que percorreu o circuito turístico que será responsável por acolher delegações de diversos países durante a COP30. Esse percurso não se resume a atrativos turísticos: ele é um mergulho na Amazônia viva, onde ciência, gastronomia de floresta, arquitetura sustentável e cultura ancestral se entrelaçam para oferecer uma experiência transformadora — para quem visita e para quem vive aqui.

A Casa 1 Edenred, onde funciona o nosso Centro de Cultura Alimentar, é um dos marcos dessa experiência. Ali, um restaurante-escola abastecido pelos Quintais Agroflorestais de Terra Preta transforma ingredientes nativos em sabor, renda e pertencimento. Cada prato servido carrega o trabalho de famílias da região, o cuidado com a floresta em pé e o conhecimento transmitido entre gerações.

Mas a transformação que buscamos vai além da cozinha. Em parceria com o Sebrae, lançamos o OkaHub, programa que irá incubar startups nacionais com soluções sustentáveis e baseadas na natureza. Queremos revelar ao mundo tecnologias que nascem da floresta e dialogam com os grandes desafios globais: bioinsumos, cosméticos naturais, sistemas agroflorestais regenerativos e alimentos funcionais. O OkaHub é um convite para empresas inovadoras pensarem junto com a Amazônia — e não apenas sobre ela.

Durante esse processo, abrimos nossos jardins para uma feira de artesãos e produtores amazônicos, que apresentaram objetos, alimentos e criações de altíssimo valor cultural. É fundamental mostrar que a Amazônia também é sofisticação, design e inventividade — e que as comunidades tradicionais têm papel central nessa narrativa. Ali, a floresta não é um limite: é origem.

Outro marco que nos enche de orgulho é a inauguração do serpentário, realizada em parceria com a Prefeitura de Belterra, por meio da Secretaria Municipal de Turismo e Meio Ambiente (SEMTMA). A exposição, localizada nos nossos jardins agroflorestais, abriga serpentes amazônicas oriundas de uma coleção iniciada pelo Instituto Butantan. Mas não é só sobre ciência: é também sobre cultura. As serpentes, presentes em inúmeras lendas e tradições da Amazônia, ganham aqui um espaço de reverência e conhecimento. Acreditamos que o serpentário se tornará um dos grandes atrativos da região, conectando o imaginário ancestral com debates contemporâneos sobre biodiversidade, saúde e bioeconomia.

Todos esses avanços só foram possíveis graças ao apoio de parceiros estratégicos que acreditam no futuro da Amazônia: Edenred, Pacco, Volkswagen Caminhões e Ônibus, MAN Energy Solutions, Google, Sebrae, Prefeitura Municipal de Belterra, Secretaria Municipal de Turismo e Meio Ambiente (SEMTMA), Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Técnica e Tecnológica do Pará (Sectet-PA), Taesa, Alupar, Governo do Pará, IPHAN, Ministério da Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal, além das transmissoras brasileiras de energia — Empresa Amazonense de Transmissão de Energia (EATE), Empresa Norte de Transmissão de Energia (ENTE) e Empresa Paraense de Transmissão de Energia (ETEP).

Com esse ecossistema de cooperação e investimento, o MuCA segue consolidando sua missão: ser um farol de ciência, inovação e pertencimento em plena floresta tropical.

Mais de 60 mil pessoas já visitaram Belterra no último ano. E nossa expectativa é ir além. Queremos que o MuCA seja uma janela aberta para o futuro da Amazônia, um território onde desenvolvimento não se mede por desmatamento, mas por saberes compartilhados, cadeias produtivas regenerativas e justiça territorial.

A COP30 será o palco. Mas a verdadeira transformação começa aqui — nas margens do Tapajós, nos quintais agroflorestais, nos olhos atentos dos jovens que descobrem, no MuCA, que a ciência pode, sim, ser instrumento de mudança. E que o futuro da Amazônia já começou.